Páginas

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Quem te recebe quando chegas a casa, vinda da vida?

Quem te abre a porta? Quem te beija e te fecha a porta  devagar enquanto entras com os teus ares de cansada? Quem tens à tua espera no lar? Na cama? Na vida? Alguém? Ninguém?

Como entras em casa? O que fazes ao lixo do dia que vem agarrado aos casacos, aos gorros, à mochila, à sola das tuas botas?
Como vem a tua alma do dia? Da luta, da estrada, no trabalho?
O que fazes quando chegas a casa?
Tens silêncio ou sons à tua espera? Acendes luzes ou esperam-te velas coloridas a brilhar  no escuro?
Tens aromas na casa que não são teus mas que se tornaram teus? De pessoas, jantares que cozinham baixinho ao lume...?
Rodas a chave e respiras fundo? Ou sorris? Chamas alguém? Por alguém?
Espera-te um abraço ou uma noite longa e silenciosa..?
O que fizeste com a tua vida para teres o que tens? e o que não tens?
Como te equilibras? Como vives?
A vida e os anos para trás trouxeram-te serenidade? Aceitação? Evoluíste? Amas-te e perdoas-te? De todo o mal que te causaste? Consegues?
Lidas bem com stress, agressões, ruídos, barulhos, ambientes que te oprimem, gritos, caras fechadas, pessoas ocupadas? Lidas?
O ritmo dos dias entorpece-nos muitas memórias. traz-nos cansaços e falta de tempo, mas tu, tu tens tempo. Tens esse tempo para pensar, para te equilibrar. Para te abraçares a ti mesma, sorrindo. Para te mimares e limpares com um duche quente e saboroso. Tens tempo em seguida para nutrires pele e alma com óleos que te acariciam e aliviam da secura dos teus dias. Tens tempo para preparar um chá que te ofereces... um jantar que cozinhas simples, devagar, com esperança que te dê alento e alimento. Soltas um incenso, soltas música e preenches um pouco a casa vazia.
E esperas o sono. E tentas dormir o sono. Em algumas noites há lutas, eu sei. Mas outras consegues com chás e vapores quentes dormir tranquila. E deitada na tua almofada, envolta nos teus cabelos já longos sonhas com vidas distantes, sonhas com medos, com paisagens distantes, com conversas que escutaste aqui e ali. Sonhas com histórias. Passadas. Acabadas. Sonhas com os teus pais e filhos. Sonhas tudo e não sonhas nada.
Fecha o dia. Fecha-te. Recolhe. É um lar, o teu lar.
Cuida-te. Um dia mau, não é uma vida má. Foi apenas um dia.
Boa noite para ti. Para mim.

Sem comentários: