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segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Paragem

Às vezes o meu coração, como que pára. Pára, fica suspenso na imensidade dos segundos, pairando no tempo, sem rede de segurança, sem eira nem beira, só, imensamente, dolorosamente só, no meio do Universo, coberto de pó, vergonha e dor. Este meu pobre coração que não é frágil nem forte, é feito de sangue e veias e memórias e promessas vãs. E de outras coisas também.
Querido Coração, quero falar-te ao teu ouvido, palavras nobres e doces, bondosas para que tu respires tranquilo e te sintas por mim amado e jamais, jamais só e coberto de infame vergonha ou dolorosamente abatido pelas balas dos homens, da sociedade, acusado e ultrajado em praças públicas das mentes das pessoas que não se travam e soltam palavras como cães ferozes na tua querida direção.
Eu estou aqui.
Meu doce e guerreiro Coração, aguenta a intensidade de certos dias e de alguns momentos. É guerra, sim mas tu mantêm-te na paz e serenidade que sabes e conheces, porque juntos já palmilhámos um caminho que nos ensinou técnicas de combate e nos deu estratégias de defesa para a guerra, as guerrilhas e milícias sociais ou sentimentais. A guerra não é tua.Aguenta, Corajoso. Aguente e recompõe-te rapidamente. Porque eu preciso que voltes ao teu ritmo sereno e que respires comigo, de-va-g-a-r.
Já passou, já pa-ss-ou.
Vou abraçar-te o resto da minha noite. Vou encher-te de carícias, aninhar-te, proteger-te, dentro do meu peito para que esqueças e sintas conforto apenas, nem frio, nem o nú da vida, nem nada.
Tu e eu, Coração, não esqueças, tu e eu. Eu olho por ti, tu olhas por mim. Sempre.
Para sempre.

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