Páginas

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Presa à beleza do sul

Tenho esta alma meio cigana meio vagabunda que me prende, desde sempre, à beleza sufocante e ardente do Sul. Porque neste fim de mundo nasci, por aqui fiquei e aqui morrerei com os meus ossos despidos no sal do mar e a minha luz renascida numa grão de areia ou numa onda em tubo que à areia se vai esticar.
Tenho tanto mar dentro de mim, tanto sal, tanto para contar. Se eu pudesse, se eu pudesse renascer não viria ao mundo humana, mas pequena e vibrante com escamas e guelras e sal e sol e seria livre no fundo dos oceanos, nas fossas e pradarias submersas, sem guerras e horas, sem pressas e viveria da chuva das tempestades e alimentar-me -ia de tudo o que nas praias existe de frutas e sementes e seria feliz, para sempre, para sempre.
Tento tanto contar histórias carregadas de lágrimas e pequenas vitórias. Tento oferecer sorrisos, renascidos dos dias de tormentas e por mais voltas que dê com o mundo mais o mundo me diz que seja pequena mas grande de afetos e partilhas e sorrisos com estrelas e flores.
Acredito, continuo, num mundo belo onde o feio nunca há-de entrar e na magia da vida que a morte nunca poderá silenciar ou reduzir em tamanho e grandeza o amor que existe e habita cá dentro, deste  lugar, deste porto de abrigo onde guardo memórias que até aqui me fizeram chegar.
Sou a paixão sem razão de um lugar à beira do mundo que os olhos namoram e os sentidos se toldam sem cessar diante das águas cálidas do sul, do sol e dos pássaros, das correntes e dos barcos que navegam e viajam e que deixam no rasto a saudade e vontade de aqui um dia regressar.
Sul, meu amor, sul meu destino sem rota, meu porto, meu canto, meu amor, minha canção.
Canto-te baixinho nas falésias cedinho, sem gente nem ruído, para que me oiças e escutes nos promontórios perdidos, nas rochas molhadas, toldadas de ventos e cimentadas no tempo.
Canto-te e rezo-te porque me sinto embriagada pela tua grandeza, pelo oceano que me devolve sons e cheiros distantes, pelo mundo que existe no horizonte, onde eu não vou nem viajo, porque aqui estou em casa, em casa.
Sul meu amor, a ti me confesso. Com gritos de dor, com risos e esperança, nesta mágica dança que te ofereço de dentro, cada dia que consigo, da minha vida.
Sul, para sempre. Sul.

1 comentário:

Magic Moments disse...

O sul tem sem dúvida um íman que nos puxa. Sentimos o seu calor, o seu conforto, o seu olhar no infinito que nos transporta para outras terras além mar. SUL

E porque não tentares a tua escrita em poesia? ;-)