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domingo, 10 de outubro de 2010

rotinas II - à tardinha




Há rotinas que adoro e que não dispenso.
O fim do dia, a tardinha, são as minhas horas mágicas. Desde o rodar a chave na fechadura até ao banho quente e espumoso que preparo com aromas de frutas e especiarias, nada me dá mais prazer e me faz sentir mais mulher.
É a hora em que eu me preparo para te receber. Tu que também rodas a chave na fechadura e que chegas com ares de cansaço.
Adivinho o teu humor, pelo sorriso que me fazes e normalmente, sorris. Porque gostas tanto desta rotina, como eu. E eu ofereço-te o meu abraço, em biquinhos dos pés, para te poder beijar o rosto, que prendo entre as minhas mãos.
Sentas-te, e olhas para mim. Desejas tanto as tardinhas como eu. Esperas que comece.
E eu, de costas para o grande espelho do quarto, para que me possas ver e nada percas, dispo-me muito lentamente, olhando-te nos olhos, sem pudores, sem reservas. Desafiando-te.
Normalmente, manténs-te quieto, escutando o roçar do meu vestido que escorre, revelando, centímetro a centímetro, pedacinhos do meu corpo.
Outros dias, impacientas-te com a minha irreverência e ignorando a tortura que suavemente te faço, convidas-me a repousar junto a ti, enlaçando-me com a sabedoria de quem sabe exactamente do que eu gosto.
São momentos íntimos e nossos, que não escutam a chuva que cai lá fora, porque desejam ouvir as confidencias que trocamos.
- És minha?
E eu não lhe respondo.
- Adoras-me?
E eu continuo sem lhe responder... apenas o desafio, para prolongar o prazer destes pequenos momentos. E a chuva cala-se lá fora, para escutar as nossas gargalhadas.
Acabamos no banho quente, acomodados sem dificuldade, no espaço apertado, conversando e rindo, pensando na noite que chega e nos aconchega, cúmplice.
São assim os meus fins de dia. Os fins de dia de qualquer pessoa. Basta existir, para ser assim feliz.
Quem ama, vive. O resto, mais uma vez vos digo, é tempo que passa.

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