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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Chove na rua




Chove na rua. Chove intensamente como se o céu se tivesse cansado de se conter e resolvesse romper em pranto.
Chove com força esta chuva, este vento, este tempo.
Mas cá dentro...
Cá dentro tudo é tão diferente. Há calor, há sede, há ruídos de pouca gente.
Ouve-se o crepitar da lenha, o estalar da madeira decalcada pelos teus e meus passos. Ouve-se o gotejar na caleira, o passar das horas, o despejar do chá da chaleira.
Serenamente ensaiamos um beijo e depois outro e ainda outro.
Com o coração nos olhos seguimos as linhas que os nossos corpos destacam no escuro iluminado pelo fogo da lareira. As mãos estão quietas, contidas, uma dentro da outra.
O abraço está próximo.
E lá fora chove, chove realmente.
Quando me pedes, despeço-me do vestido e peço abrigo ao teu abraço. Quando me sorris, demoro-me no deleite desse sorriso de chocolate quente. Quando me sussurras, procuro guardar o doce daquilo que me dizes, em papelinhos de algodão que guardo no coração.

Quando dentro de uma casa se perde a noção e a medida do tempo... quando se esquecem as palavras e se usam os olhos para longas e demoradas conversas....

Quando as pontas dos meus dedos se soltam do juízo e da razão e se aventuram no mar das tuas costas, na areia dos teus cabelos, na água dos teus olhos, nas covas que retêm o teu sal...
Quando o teu calor passa para mim e se aloja na minha pele. Quando o teu odor se confunde com nuvens de papel.
Quando o relógio anuncia com badaladas sonoras os momentos suaves...
Enquanto tudo isso acontece... enquanto a lava arrefece...

Lá fora chove copiosamente. Chove como gente. Chove como nunca chorarei eu por ti ou tu por mim. Chove com lágrimas. Com lágrimas de gente.

1 comentário:

Lhansol disse...

Há um ano????

...vamos por este blogger a mexer!!!
comprimentos Margarida