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domingo, 3 de outubro de 2010

O Adão


Ser o Adão não é fácil. Traz consequentemente a responsabilidade de errar e de arcar com as culpas do velho universo. Deste velho universo pintalgado de estrelas que se vão e se vêm. Enquanto tu existires no meu universo, que eu espero que passe para lá desta e da outra eternidade, não vejo qualquer solução para este caso de enlace de sentimentos e abismos cor de céu e cor de mar.
Trazes na minha mão o teu cheiro a sal, a céu e a ervas frescas e rasgadas de vento.

Enquanto tu decidires morar no meu corpo, deitar-te em cima de mim e fazer de ti a minha manta e de mim o teu colchão, decididamente estaremos tão perdidos, tão perdidos, que nem que todas as minhas estrelas do teu e meu universo se acendam, não haverá remédio para este mal que me corroí o espírito e o turva de ti e para esta chaga que sangra de calor e de desejo.

És tu quem me faz parar de olhar para as estrelas para assistir ao nascimento desta gloriosa, imensa, e partilhada alegria.
És tu quem me ilumina o caminho para a cama quando as estrelas se deitam confusas, sem saber se ainda me fazem falta, ou já não.
Sou eu que te conto como nascem e morrem essas estrelas e tu escutas de mãos postas no rosto. Nesse rosto que me dói olhar porque ofusca as estrelas que estudo.
Tornei-me o Adão que se perde na imensidão do teu céu negro. Como negro é o teu cabelo e negro será o meu caminho se me faltares.
Eva do meu abraço, não escorregues para as profundezas do teu ser. Deixa-te estar neste abraço que te ofereço, neste beijo que te aflora, nesta onda de prazer.
As minhas estrelas pedem-me que te esqueça, que as volte a amar sem condição, mas o meu olhar já não as vê, nem as quer mais.
Tornei-me inevitavelmente este Adão que morde a maçã sem sequer ter sido confundido pela serpente do teu paraíso. Porque Eva, tu és a maçã do meu pecado e neste paraíso não preciso de mais ninguém.

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